quinta-feira, 24 de maio de 2007

Se tachos é nas Câmaras do Norte, Lisboa fica na Galiza...

David Pontes, no JN

"Confesso que estava mentalmente preparado para, durante semanas e semanas, assistir, com indisfarçável tédio, à campanha eleitoral para a Câmara de Lisboa, subitamente transformada na coisa mais importante do país. São os custos da periferia.

Mas ao ler uma entrevista do candidato José Sá Fernandes, no fim-de-semana, ao "Correio da Manhã", vi nascer a esperança de que esta disputa projecte alguma luz sobre a maneira como esta autarquia consegue fundir alguns maus hábitos do poder local, com a arrogância e o descontrolo naturais da "capital do império".

Já tínhamos percebido que a dívida da autarquia lisboeta era maior do que a dívida do conjunto dos 14 municípios da Grande Área Metropolitana do Porto. Agora começamos a perceber as razões. Dizia o vereador que o município era um enorme "empregador político", patente na quantidade de assessores recrutados pelas diferentes forças políticas .

Ao que consegui perceber, entretanto, a autarquia tem mesmo alguma dificuldade em dizer o total, mas serão perto de 200 pessoas, que representarão cerca de 25 milhões de euros no orçamento anual camarário. E, como é normal na capital, são gente bem paga. Na entrevista, o vereador do Bloco de Esquerda gabava-se de ter conseguido duplicar o número de assessores com a verba destinada aos seis assessores a que, por "regra", teria direito. Ao todo, o gabinete de Sá Fernandes custa ao orçamento cerca de 20880 euros.Agora sentem-se, por favor. Percebam que, na esmagadora maioria, estamos a falar de gente para lá do quadro da autarquia. Entendam que mesmo os vereadores sem qualquer pelouro, como é o caso de Sá Fernandes, têm a sua corte de assessores.


E agora perguntem-se "Como é nas outras autarquias, por exemplo, no Porto? ". Pelo que sei, os vereadores da oposição têm ao seu dispor uma ou duas secretárias do quadro da Câmara. Assessores remunerados, nem vê-los. E mesmo os vereadores com pelouro não têm mais do que duas ou três pessoas da sua confiança política.Querem melhor exemplo de como somos mesmo paisagem? A partir daqui, quero bilhete na primeira fila, para poder assistir a esta campanha que adivinho esclarecedora."

A comunicação social só fala dos tachos nas câmaras do Norte. Sem dúvida que Lisboa só pode ficar bem a norte do rio Minho...

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