sábado, 28 de abril de 2007

Nazismo e Neoliberalismo

Uma excelente reflexão de Timóteo

"Os neoliberais são estruturalmente idênticos aos nazis: o culto dos fortes. Os nazis acham que devem dar um empurrãozinho legal aos fortes para ques estes eliminem os fracos enquanto os neoliberais acham que basta o empurrão das leis da selva/do mercado para que os fracos sejam suprimidos.
(...)
Os neoliberais, aliás odeiam particularmente o termo "neoliberalismo" que lhes descobre as sua verdadeiras intenções social-darwinistas (tal e qual como as dos nazis).
(...)
Nacionalistas, fascistas, nazis e neoliberais cultivam todos a mesma obcessão pela força. É esse o seu cimento ideológico."

Este texto refere as críticas mais recorrentes em relação ao neoliberalismo. Há, no entanto, uma frase com a qual discordo - a que está sublinhada. Os neolibrais não pretendem a supressão dos mais fracos. Apenas a entendem como aceitável e legítima. Defendem que com o mercado todos ficamos a ganhar. Que cada um é responsável de forma completa e individual pelas suas acções. Os pobres são pobres por causa das suas escolhas. Escolhessem diferente, poderiam ser ricos. A supressão dos mais fracos é um dano colateral. A virtude...err...culpa, é do mercado. E o mercado é soberano. Porquê? Porque é fruto das escolhas individuais de cada um. É cego, logo justo.

E é verdade, é justo na medida em que é imparcial e muito eficiente na hora de alocar recursos. O que não é justo são todas as condicionantes anteriores ao mercado. Porque a desigualdade inicial, depois de passar pelo crivo do mercado, só pode conduzir a maior desigualdade.

No entanto, no Blasfémias, todas as políticas que conduzam a maior igualdade de oportunidades são criticadas, pois distorcem o mercado. Mas não estariam os resultados do mercado já distorcidos pela desigualdade anterior? E não será a dignidade humana um bem superior, a proteger independentemente da "justiça" dos resultados do mercado? São os sem-abrigo um "dano colateral" aceitável?

O mercado deve ser defendido sempre. Bem mais do que hoje é defendido. Não defender o mercado é defender a pobreza em grande escala. Aliás, hoje, a distorção do mercado em Portugal cria muita pobreza graças ao regime semi-corporativo em que estamos. Mas o mercado não vale mais que o Homem. Pequenas distorções deverão ser aceites para permitir um mundo mais equilibrado para todos. Que a riqueza produzida pelo mercado a todos beneficie. Ou que pelo menos sirva para retirar os cidadãos da miséria absoluta.

5 comentários:

Anónimo disse...

julgo que não é apenas uma questão de igualdade de oportunidades mas de igualdade, simplesmente

e, do meu ponto de vista, não se deve tratar apenas de pequenas distorções que deverão ser corrigidas mas de implementar políticas radicias de redistribuição dos recursos com vista à máxima igualdade possível (e, sim, não tenho problemas com o mercado, desde que regulado na perspectiva que acabei de enunciar)

timshel

Snowball disse...

Costumo dizer que o mercado é como uma fórmula matemática.
Colocamos lá um input, e ele dá-nos o output correspondente resultante das escolhas individuais de cada um.

Ao assegurarmos igualdade de oportunidades, cada um fica igualmente livre de colocar o input que entende para obter o output que pretende. Cada um é livre de prosseguir os seus fins. Se for mais materialista trabalhará mais. Caso contrário, trabalhará menos. Se fizer as opções correctas, irá ter a vida que pretende. Se escolher errado, irá sofrer as consequências das suas opções. Sendo certo que deverá haver um apoio social que assegure a dignidade humana de cada um. Isto é o que eu defendo.

O Timóteo defende que, independentemente do que cada um fizer, o output está definido à partida. Pode trabalhar mais, estudar mais, encontrar formas mais eficientes de trabalhar, inventar algo importante - não importa, o resultado final já está definido. Pode ter o sonho de ter uma casa junto à praia. Não importa o que faça, esse sonho não é atingível. Talvez seja, mas só pelo acaso, nunca pela vontade.

No seu mundo, caro Timóteo, o mérito não conta. Pelo contrário, o demérito é incentivado - posso não fazer nenhum, o resultado é o mesmo. Experimente visitar uma empresa em que os maus empregados tem o mesmo reconhecimento (em particular o monetário) que os melhores. Ao fim de pouco tempo essa empresa está na falência. Porquê? Porque ou os bons decidiram sair, ou então "converteram-se" à mediocridade. Qual o resultado duma sociedade que não valoriza o mérito? Só pode ser um - a pobreza.

Mas mais grave que a pobreza, é a desigualdade que essa sociedade contém. Porque todos somos diferentes, todos temos objectivos (mesmo monetários) diferentes, e todos procuramos caminhos diferentes. O seu "ponto de vista" nega tudo isto. Todos serão assepticamente iguais.

Uma outra crítica que se pode fazer ao seu "ponto de vista" é a apropriação da sociedade do fruto do trabalho de cada um. A exploração do "capitalista" ao trabalhador não é legítima, mas se for a "sociedade" passa a ser legítima? Em nome de quê?
Uma coisa são as responsabilidades de cada um perante a sociedade, e o dever de contribuir para a promoção da dignidade humana de todos. Para corrigir desigualdades de base entre as pessoas.
Outra coisa, é a apropriação da totalidade do trabalho de alguém para dar a todos os outros. Na sua sociedade, o trabalho de cada um não lhe pertence - pertence à sociedade. Porquê? Porque motivo entende que é ilegítimo que uns sejam mais produtivos que outros? A isto, caro Timóteo, chama-se inveja.

É curioso que Marx falava da propriedade dos meios de produção. Nunca lhe ocorreu sequer a ideia de igualdade de resultados, porque (a meu ver) é um profundo disparate.

É mais que óbvio que o Timóteo tem problemas com o mercado. Se o resultado do mercado está definido à partida (todos ganham o mesmo), o mercado nunca funciona. Precisa mesmo de planeamento centralizado. Por um simples motivo: imagine um agricultor que pode cultivar batatas ou cenouras. Existe maior procura de cenouras. Numa situação de mercado livre, ele tem incentivo de cultivar cenouras. Numa situação de igualdade de resultados, é irrelevante para ele o que produz - vai ganhar o mesmo. Vai acabar a plantar laranjeiras porque dá menos trabalho e é mais bonito...

Mas responda-me a três questões, caro Timóteo:
1 - Por que motivo é legitima essa apropriação da sociedade do trabalho de cada um?
2- Por que motivo é essa situação desejável?
3- Se a igualdade é um valor tão supremo e absoluto, não deveria ser extendida a outros campos que não o económico? Por forma a distribuir a felicidade de forma equitativa entre todos? (sei lá, o mesmo número de relações sexuais por ano, o mesmo "índice de beleza", a mesma roupa, o mesmo QI, ...) Porque não procurar eliminar todas as diferenças naturais, já que são estas que malevolamente causam todas as diferenças económicas posteriores. Porque não eliminar isto à partida? Poupava muita chatisse...

Porque, muito sinceramente, sempre foi a intolerância à diferença que gerou sistemas totalitaristas - nazismo, fascismo, comunismo soviético, maoismo,...- aceitar a diversidade com tolerância talvez seja a melhor forma de atingir a igualdade que importa. A igualdade na dignidade humana.

Anónimo disse...

Timóteo,

Mais uma vez, aqui está uma prova da doença fanático-compulsiva de que padecem muitas das pessoas que orgulhosamente se intitulam de esquerda. Não só não sabem do que falam como se arrogam a proferir disparates à conta da sua ignorância. Portanto, aqui vão umas dicas:

1 - Tente informar-se, preferencialmente com indivíduos que não tenham uma foice na mão e um martelo noutra, o que realmente é e representa o liberalismo, qual a sua base ideológica. Se é verdade que o individualismo é a sua pedra basilar, a desresponsabilização do indivíduo para com os seus actos não é. A regulação e intervenção do Estado para precaver tais faltas não só é desejável como necessária e indispensável. Põe-se o problema de que o Estado, que uns querem omnipotente, se ocupa demasiado com faits-divers do que com o acima exposto. As falhas graves em matéria de Justiça apenas fomentam o estado de impunidade e aumentam o desiquilibrio existente quer no mercado, quer na sociedade.

2 - Se, depois do enunciado no ponto 1, chegar à conclusão de que liberalismo (ou neoliberalismo, whatever) e neo-conservadorismo afinal não são a mesma coisa, dou-lhe os meus parabéns: percebeu o que significava! Percebeu que um neo-conservador fica com um nó na garganta antes de condenar Pinochet (se o chega a fazer) e um liberal o coloca (colocava) numa cela ao lado do Fidel (que imagino que também deixe ao Timóteo um nó na garganta). Sendo assim, proponho que na sua frase

"Nacionalistas, fascistas, nazis e neoliberais cultivam todos a mesma obcessão pela força. É esse o seu cimento ideológico."

troque neoliberais por comunistas. Só lhe fica bem e denota não só alguma lucidez política como conhecimento de causa.

Ainda relativamente aos neo-conservadores, penso que basta um dicionário para se perceber que alguém que é conservador não pode ser liberal. Isto porque se tende a confundir liberalismo unicamente com liberalismo económico, o que não é verdade. Liberalismo, tal como a própria palavra indica, pressupõe liberdade, e esta não só é económica como social. Um liberal é a favor da não-discriminação de sexos, raças, nacionalidades, religiões e opções sexuais e sua igualdade em termos de legislação. Um conservador, como muito bem deve saber, terá infelizmente dificuldade em aceitar alguns destes pressupostos.

3 - Com todas as suas imperfeições e com todas as suas desigualdes, muitas delas chocantes, a verdade é que qualquer país atinge níveis de progresso superiores com políticas económicas ditas "liberais" do que com políticas económicas de esquerda ou de extrema-esquerda (note-se que excluo o centro-esquerda, onde o liberalismo económico é mesclado com algum intervencionismo estatal). I wonder why...

4 - Não sei se foi na sua reflexão que li ou na de alguém seu fã de extrema-direita, mas vir novamente com a conversa de que os males do Mundo continuam a ser originados pelos judeus não só é de extremo mau gosto como descer a um nível muito baixo. Aparentemente a História deveria servir para aprendermos com os nossos erros, mas com tanta ignorância vamos continuar a fazê-los...

Snowball disse...

Pedro:

1- Concordo plenamente consigo - mas infelizmente são também (alguns) liberais que defendem a não regulação do Estado.

2- Não sei se o Timóteo fez ou não essa confusão - ele não se referiu aos neoconservadores em todo o artigo.

3- Verdade. Mas prosperidade média não implica prosperidade para todos. Defendo que o progresso deveria beneficiar a todos. Não implicando isto a defesa do igualitarismo como objectivo da sociedade. Defendo apenas o direito à dignidade humana (aliás, pode comprovar isto no meu post seguinte).
De resto, as suas críticas ao Estado parecem-me justas e pertinentes.

4- Essa afirmação dos judeus foi feita por Pedro Arroja, considerado por muitos como o Pai do Liberalismo em Portugal... Confuso? Pois é, infelizmente é este o nível dos defensores do liberalismo. Acredito que haja bem melhor em Portugal, mas "a má moeda espulsa a boa...".
Justiça seja feita, (pelo menos no post em questão), o Timóteo não se refere à questão dos judeus.

Anónimo disse...

Se a associação entre neoconservadores e neoliberais não foi feita pelo Timóteo, as minhas desculpas ao visado. Deverá ter sido um link associado ao post do mesmo.

De qualquer forma, serve a explicação para as 99% de pessoas que confundem ambas as correntes.